sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Dia Mundial da Alimentação

Os Frutos


Coisa importante é gostar dos frutos, gostar deles com o tacto, o paladar, o pensamento.
As castanhas friorentas, agasalhadas em roupas espinhosas e flanelas macias.
Melancias vulgares e nuas, de carne vermelha, viva. Uvas pretas, transparentes vitrais, redondas jóias de princesa.
Pêssegos e damascos vestidos de veludos pomposos como reais e cardeais. Cerejas de pele lisa, cerejas meninas de saia vermelha e meia verde, cerejas que se trincam com gosto, entre risadas, no recreio da escola, no mês da giesta.
Melões de casca sardenta e rachada, os que vieram de presente de um amigo que mora à beira rio e se tem a certeza que são de qualidade.
Nozes que duram todo o ano. Mulheres de dentro de casa, as nozes humildes e escondidas, as que partíamos na frincha da porta e comíamos com pão.
Maçãs perfumadas, aristocráticas, sempre diferentes no gosto e no tom da pele brunida e doirada. Vinham em cestos redondos, cobertos com toalha de linho, e eram presente de estimação do doente da aldeia ao médico da vila, que não levava dinheiro pela consulta.
Laranjas que, antes de serem fruto, são mistério de perfume da infância: “Três meninas estão sentadas/ debaixo dum laranjal…/ Todas três são minhas filhas/ oh, quem mas dera abraçar…”
Limões pálidos, os nórdicos senhores de face esguia e colete de camurça, lordes de ditos amargos à mesa do clube.
Em Setembro, o cheiro dos marmelos anuncia que se acenderá no lar da cozinha um lume de chamas altas e que no tacho de cobre ferverá, durante muito tempo, o doce que se guarda em tigelas de barro castanho.
Coisa importante é gostar de frutos…
Histórias de Poucas Palavras
Maria Eulália de Macedo